Crítica | Doentes de Amor (2017) Um retrato fiel sobre as relações humanas

Eles são de mundos diferentes, mas ao mesmo tempo, também são iguais. A premissa desta comédia romântica (que por vezes flerta – e muito – com o drama) retrata a vida de Kumail e Emily, um casal que logo de cara tem tudo para dar certo, mas devido a diferenças na cultura de Kumail e a doença de Emily tudo acaba por culminar em um caminho que eles jamais imaginaram trilhar.

Curiosamente, a história do filme retrata a vida real do casal Kumail e Emily, e o mais interessante nisto tudo é que o próprio Kumail do filme faz o seu papel neste longa de forma natural e com muita fluidez. Já Emily é interpretada pela atriz Zoe Kazan, queridinha esta que já tinha conquistado toda a afeição do espectador lá em 2014 com o famigerado 'Será Que?' Filme este em que o seu papel também é o interesse amoroso de um jovem com problemas para se relacionar novamente com outra pessoa por um motivo específico. No entanto, aqui sua interpretação é totalmente nova, o que agrega novos sentimentos de empatia, mas ao mesmo tempo desperta uma nostalgia por sua personagem vivida em 2014 de uma forma ou outra.

Foto: Lionsgate / Divulgação.

O que mais chama atenção nesta história em específico é o modo como tudo é feito com naturalidade, sem forçar ou cair no clichê barato. Reconhecimento do trabalho incrível de Michael Showalter na direção e o roteiro por Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani. A própria estrutura ao qual o filme se solidifica é diferente da maioria dos outros filmes do gênero no segundo ato. Num momento você pensa que algo irá acontecer, e tudo muda para uma situação inteiramente nova. Até mesmo o final nos deixa apreensivos e faz com que diversos caminhos para a narrativa possam ser abertos dentro da cabeça de quem está assistindo. O maior ponto positivo é o modo como são exploradas as relações adultas, e os motivos que fazem a maioria dos casais brigarem mesmo sem uma razão para isto. O jogo da confiança e os dois lados da moeda é um recurso explorado incansavelmente dentro desta história, o que causa não só a sensação de reflexão, mas também de lição de moral. 

Os recursos técnicos como a fotografia, a trilha sonora e a atuação do elenco não são novidades aqui, o que de fato vai prender você é a leveza no modo como alguns assuntos são retratados e as mensagens sutis de "talvez não seja hoje, mas quem sabe amanhã". Admito que este tema me atrai com certa facilidade, mas tenho certeza que a maioria das pessoas que investirem preciosas duas horas ao ver o longa certamente sairão 'de barriga cheia'; não é algo sensacional, mas é diferente, acolhedor, um retrato íntimo ao qual você se sente parte e quer torcer para que tudo dê certo no final. 

Foto: Lionsgate /  Divulgação.