Resenha | My Broken Mariko: Da negação a saudade

Maykon Oliveira
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Escrito e ilustrado por Waka Hirako, o mangá de volume único, My Broken Mariko, retrata a vida de Tomoyo, uma estudante sem grandes expectativas na vida e fumante compulsiva. Durante o ensino médio, ela se torna amiga da simpática e gentil Mariko, uma garota que sofre abusos e violência doméstica, mas que encontra nessa amizade um pilar para aguentar seus piores dias. 

Anos se passam até o dia em que Tomoyo assiste na TV a notícia de que sua melhor amiga, Mariko, morreu sem deixar recado ou mensagem de despedida. Enlutada e sem entender os motivos do que causou aquela situação, Tomoyo irá até as últimas consequências para dar um adeus digno à aquela doce garota que via nela um lar, mesmo nos dias mais turbulentos, passando pelas cinco fases do luto e encontrando para si mesma um novo recomeço. 


Tomoyo com as cinzas de Mariko em um restaurante.

Salvando os mortos após a morte

Esta curta história com apenas 4 capítulos conquista não apenas pela narrativa que envolve o luto de Tomoyo por sua melhor amiga, Mariko, mas também pelas transformações da personagem até cumprir todos os estágios que a farão aceitar a morte como algo repentino (mesmo que já tenha sido previsível em alguns momentos). Da negação até a saudade, acompanhamos um retrato de uma bela amizade, cercada por incertezas e dores profundas que irão impactar para sempre na memória da nossa protagonista.

A aventura da jovem protagonista começa quando ela decide invadir a casa de Mariko, roubar do altar da família a urna contendo as cinzas de sua melhor amiga e soltá-la ao vento em um lugar ideal: Um horizonte belo, em que em vida, ela estaria satisfeita de conhecer sorrindo e finalmente sentindo que foi plenamente feliz após passar por traumas que vivenciava todos os dias, desde a época da escola. 

Dessa forma, uma bela praia foi um dos melhores lugares que Tomoyo pode pensar, e a partir disso, tomou a decisão de juntas de forma física, mas também espiritual, conhecerem o Havai, e finalizarem esta amizade dando um adeus digno e cercado de boas lembranças.  

    Tomoyo pronta para despejar as cinzas de sua amiga

O que fez Mariko morrer

Nesse trecho do mangá vamos aos poucos conhecendo como era a relação das duas através de Flashbacks e a descrição de acontecimentos registrados em cartas enviadas ao longo dos anos entre elas após o fim do ensino médio e o começo da vida adulta, com ênfase na saudosa que dá nome a esta história. A garota frequentemente abusada pelo pai também era responsável pela limpeza da casa, comida e não podia mais sequer sair para outro lugar que não fosse o minúsculo e imundo apartamento em que era mantida presa. 

As agressões físicas e as constantes relações não consensuais foram aos poucos tornando tudo impossível de ser suportado; nem mesmo pedindo ajuda de forma subentendida para a jovem garota que fumava sozinha no telhado do ginásio pode ser tão eficaz em resultar que seu agressor fosse preso ou que Mariko conseguisse sair daquela situação que já levava anos desde o divórcio de seus pais e que acabou agravando seus momentos de tortura.

Mariko não falava o que estava acontecendo em casa, mas pedia ajuda para não ficar sozinha, tinha medo que sua amizade com Tomoyo acabasse caso ela começasse a namorar ou que alguma coisa na vida adulta pudesse separá-las. Infelizmente, isso aconteceu.

As fases do luto até o fim de uma grande história

Os pensamentos suicidas de Mariko e as constantes cenas de desespero pela amizade de sua amiga Tomoyo começaram a se intensificar até pouco antes dela morrer. Em um primeiro momento, Tomoyo se sente incapaz de realizar uma única boa ação para a falecida, e percebe ao ler as cartas que apesar de tudo estar um inferno, sua fiel irmã de consideração tentava enviar boas energias e mostrava que podiam existir dias felizes mesmo com tudo que estava acontecendo. 

É nesse momento que tudo dá errado nessa trajetória de chegar ao mar, mas é também aqui que percebemos que ela está enfrentando todos as cinco fases do luto de uma só vez: Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação. 

A jovem fumante nega a morte de alguém que ela tanto amava, mas ao perceber que o destino não poderia ser mudado, e que agora Mariko finalmente estava a salvo dos dias de sofrimento, abuso e solidão, Tomoyo se sente aliviada quando, acidentalmente, tropeça e deixa as cinzas cair em um vasto horizonte que por mais que não seja como ela imaginou, conseguiu mostrar através das cinzas voando, pela última vez, a beleza e o amor que fazia Mariko literalmente brilhar.

Mariko estava quebrada, mas no final pode se sentir inteira outra vez. O reencontro tardio das duas amigas revela uma amizade fortíssima entre duas mulheres que viviam vidas distintas, mas que quando estavam juntas esqueciam de tudo o que há de errado em nossas encarnações e todos os problemas que podem surgem durante esse pequeno passeio chamado vida. 

Após todo o caos, Mariko estava bem e Tomoyo pode continuar caminhando sabendo que, mesmo no final, tentou mudar a história trágica que ouviu na TV para algo um pouco mais bonito e alegre, algo que no mínimo reforça como a vida é imprevisível e como mesmo quebrados podemos continuar a caminhar ou construir um novo caminho para trilhar se formos capazes de sorrir pensando em alguém. 

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