Artigo | A tristeza em Harry Potter: Quando a magia não cura a solidão

Maykon Oliveira
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A história de Harry Potter carrega mensagens de otimismo e crescimento espiritual. A obra de J.K Rowling é uma fórmula atemporal sobre como enfrentar a vida e os desafios que ela nos impõe. Sob um olhar crítico e reflexivo, podemos observar que tudo o que Harry passa para finalmente derrotar O Lord das trevas, é na verdade, sua jornada para entender o que é o mundo. A trama constrói um sólido esquema de comportamentos humanos que agregam curiosidade e peso para cada personagem. 

Na história de Rowling, os dementadores são mensageiros do que seria o começo da depressão, e por fim, a própria morte em si. O crescimento de Harry perante a estes ''monstros'', é um fator simbólico do medo que toda criança sente ao longo de seu crescimento. As amizades que são estabelecidas no primeiro ano da escola representam o começo de um novo mundo e finalmente, a sensação de segurança. Seria Hogwarts, este outro mundo? Sim. A escola de magia e bruxaria não é mais do que um outro mundo ao qual Harry possa ser feliz, como também, é o seu desafio pessoal de vida, isto, levando em consideração que no mundo dos ''Trouxas'', ele se sente deslocado, atormentado e sozinho.

A morte de um dos gêmeos Weasley, o primeiro animal de estimação, os pais, o professor, os amigos, a figura materna, o padrinho, e finalmente, o próprio Harry. Estes acontecimentos servem para dar peso à história e mostrar que tudo está aos poucos, caminhando para um desfecho frio e sangrento. Porém, é algo além disto, é também, a representação do coração humano entendendo aos poucos que nada é eterno, e que não importa o que aconteça, nada pode ser desfeito. 

Objetos mágicos parecem existir apenas para acrescentar diversão e curiosidade à trama não é mesmo? Pelo contrário. J.K simboliza-os como objetos justamente para mostrar que até mesmo as pequenas coisas tem o seu valor. Seja um colar que pode voltar ao passado, uma esfera utilizada em esportes bruxos, ou um espelho que reflete o desejo mais profundo de seu coração. A criação destas coisas é um modo de depositar seus desejos desesperadamente sobre algo físico, que possa ser tocado, e por vezes, guardado sob alguma circunstância. As relíquias da morte podem ser inseridas neste contexto. No entanto, são objetos que não trazem felicidade, apenas a prometem, mas quase sempre acabam resultando na morte de seu portador. 

Outro fator que explora a solidão, é o heroísmo de Severo Snape. O professor sombrio e silencioso é a representação dos traumas e falhas do passado de qualquer pessoa, e para isto, ele acaba morrendo por uma causa muito maior que ele. O seu amor por Lílian Potter, a mãe de Harry, é o seu maior ponto inicial de qualquer decisão. Neste contexto, o amor humano é o sentimento mais forte defendido pela autora, e também, é inserido para sempre estar nos momentos de maior apego emocional dos personagens. 

O Amor agrega valor à trama. Não por acaso Dumbledore diz: ''Não tenha pena dos mortos, tenha pena dos vivos, e acima de tudo, daqueles que vivem sem amor.'' De um modo livremente interpretativo, Voldemort é a criança que nasceu sem amor. Devido à falta deste sentimento, ele não reconhece a felicidade em ter amigos, ser bom ou corajoso. Tudo o que o Lord das trevas almeja é ser eterno, e nunca morrer, porque para ele, a morte seria o fim, e sua maior conquista seria vencer este obstáculo. 

Fica claro que a obra de Rowling é praticamente baseada no que poderia ser o fim sombrio que é a morte. E como ela tenta explicar para crianças e adultos no mundo inteiro como vencer o medo deste personagem que mesmo fictício, consegue atravessar as páginas dos livros e vir ao mundo real. A magia serve como pano de fundo para às intermináveis jornadas que Harry enfrentará ao longo de tudo. No momento em que o mau do mundo bruxo chega ao fim, a felicidade finalmente consegue reinar, mesmo que seja de modo momentâneo, mas deixando claro que não é algo que se conquista apenas admitindo estar sozinho, e sim, estar disposto para enfrentar o mundo e sacrificar seus entes mais queridos em prol de algo muito maior.

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