Artigo | O episódio mais reflexivo de Dr. House

Maykon Oliveira
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Dr. House sempre fez intertextualidade sobre temas como: Psicologia, Teologia, Filosofia, História da humanidade e a Medicina em si. O episódio em questão explora estes fatores em nível máximo. As misturas de artifícios levemente recorrentes no seriado são expostos de maneira tênue e sensitiva, o episódio citado traz questionamentos sobre a vida e a morte, e o caminho para qual todo ser humano trilhará e inquestionavelmente ficará curioso ao decorrer da vida.

Na quarta temporada, em um episódio de duas partes: ''A cabeça de House'' e ''O coração de Wilson'', um acidente em que estava com alguns passageiros em um ônibus faz House perder temporariamente as memórias da noite anterior, após ir recuperando algumas memórias com o decorrer do episódio, entre hipnoses e sonhos sugestivos, ele descobre que a esposa de seu melhor amigo: Amber, está morrendo com uma doença que ninguém sabe exatamente o que pode ser a causa. O desafio aqui é descobrir qual a doença que ela carrega, e como curá-la, depois deste evento, a luta de como parar a doença e lembrar-se o que aconteceu na noite do acidente torna-se o foco do episódio.

Após diversos exames, análises, sugestões e possíveis tratamentos para doenças levantadas pela equipe, o resultado é Lupos, o que acaba por decorrer na morte declarada da paciente, neste ponto, o episódio torna-se extremamente pesado. Mantida viva por aparelhos e em coma induzido, o Marido decide desligar as máquinas e dizer adeus à sua companheira de vários anos. A equipe se reúne para ligar o coração de Amber uma última vez para se despedirem adequadamente da sua antiga colega de trabalho e deixar que o casal tenha um último diálogo.

Depois de uma série de eventos para fazer com que House acabe lembrando do dia do acidente, ele entra em coma após fazer tratamentos à base de remédios que aceleram seus batimentos e resultam em uma quase morte. Em um plano na sua cabeça, ele percebe que a paciente já está morta, e no mesmo ônibus do acidente, discutem como é morrer, a razão para se estar vivo, e o que pode vir depois do último suspiro, tudo na visão de um médico que constantemente convive com os dois lados da moeda: a vida e a morte.

O questionamento humano é exposto em larga escala, porque casais apaixonados e com grandes sonhos são separados repentinamente, enquanto viciados em drogas e solitários vivem mais neste mundo mesmo sem ter grandes motivações? O momento de decidir entre viver e morrer afeta a consciência do médico e o faz preferir ficar naquele lugar, o relato é de não sentir dor, angústia, tristeza, sofrimento, e as memórias já não doem. Ele decide não voltar, prefere acabar ali, rápido e sozinho.

O que torna o diálogo curioso é que House é ateu declarado, além de ser sádico e sarcástico a maior parte do tempo, ele atribui sua falta de fé ao seu sucesso profissional. Relata que como médico é melhor você ser realista e saber quando insistir para salvar uma vida, ou ter a capacidade de reconhecer que se a medicina não tem o que é necessário para curar o paciente, nenhum milagre teria este poder.

Ao final, Dr. House prova que não é tão simples lidar com a vida, evidencia que todos temos um modo diferente de viver. Pode ser em família, com amigos, companheiros, ou sozinhos em um quarto esperando uma salvação para as rotinas sem graças e sem inspirações. O questionamento que fica não é para onde iremos, e sim, quando iremos, pois, em vida, nossas vontades se sobrepõem a qualquer vontade divina de sanar com o nosso sofrimento, ou fases tristes que possamos vivenciar. Isso mostra que o ser humano é tão mais complexo do que qualquer religião, relações familiares ou a própria medicina, a grande questão é o quanto sua mente é capaz de aguentar.

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